sábado, 30 de outubro de 2010

Três adolescentes homossexuais se matam por dia no Brasil

É isso que dá preferir ter um filho morto... a ter um filho compreendido



“Mais uma vida jogada fora
Um coração que já não bate mais, descanse em paz
Sonhos que vão embora, antes da hora
Sonhos que ficam pra trás”
Gabriel O Pensador / Lulu Santos

Três LGBTeens se matam por dia. Um a cada 8 horas. Sozinhos. Sem entender direito o que está acontecendo. Alguns poderiam ser grandes médicos, advogados maravilhosos, artistas, professores, poderiam ser mães ou pais amorosos.

“Se mataram simplesmente por serem gays. E eu enfatizo o termo ‘gay’ porque é o que acontece, na grande maioria dos casos: seis garotos se matam pra cada garota. Ou seja, dos 1056 adolescentes que se mataram em 2009, 150 eram lésbicas e 906, gays. Em um ano, NOVECENTOS E SEIS garotos preferiram morrer a continuar sofrendo humilhação. CENTO E CINQUENTA garotas escolheram desaparecer a ter de lutar pelo direito de amar quem elas queriam”, declara Deco Ribeiro, fundador da ONG Grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados.

MIL E CINQÜENTA SEIS!! No Brasil não há dados oficiais sobre suicídios entre LGBTeens. Mas podemos fazer uma comparação com outros países. A Organização Lambda Education, da Suíça, pesquisou o suicídio entre jovens europeus e concluiu que entre 5 suicidas na Alemanha, por exemplo, 4 eram LGBTeens. Estima-se que mil adolescentes alemães se matem por ano, ou seja, 800 gays e lésbicas. Essa pesquisa também afirma que 18% dos adolescentes homossexuais já tentaram se matar ao menos uma vez.

Em 1998, o pesquisador Gary Remafedi concluiu que os jovens homossexuais dos Estados Unidos representam um terço de todos os suicídios juvenis, considerando que os homossexuais constituem 5 ou 6% da população. Sua equipe descobriu, ainda, que garotos homossexuais ou bissexuais apresentaram 28,1% mais chances de tentarem suicídio, comparados a 4,2% dos homens heterossexuais.

De acordo com o Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (CLAVES) de cada 100.000 jovens de 15 a 24 anos, 4 se matam a cada ano. São 1320 para um total de 33 milhões de jovens, de acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se considerarmos que de cada 5 mortes, 4 são de homossexuais, como acontece nos Estados Unidos e países da Europa, chegaremos ao total de 1056 suicidas LGBTeens.

Pesquisas do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp afirmam que o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos no mundo, e esse dado se repete aqui no Brasil. Atestam, ainda, que a principal causa disso se relaciona com frustrações no âmbito familiar e afetivo.

DEPÔ – Luan, de 18 anos, diz que o pensamento sobre suicídio sempre foi freqüente. “Pensei na possibilidade muitas vezes. Mas não consegui continuar com meu plano. Eu cresci traumatizado com as pessoas, principalmente minha família. E ficava muito depressivo. A cabeça ficava muito cheia, eu pensava nos meus pais, no meu futuro, e tudo era problema pra mim. Meu pai tinha um revólver e quase conclui que usá-lo seria uma solução”, confessa.

É ONDE A COISA APERTA. A família sempre foi considerada a estrutura do adolescente. Todo pai e mãe diz para o filho não se viciar em drogas, nem aceitar carona de estranhos e fala que precisa estudar e criar juízo. “Mas e quando sua família o recrimina não por algo que você faz, mas por algo que você é? Quando um pai ou uma mãe diz ‘se você continuar com essa viadagem, você pra mim morreu,” e o jovem sabe que não pode mudar isso?”, pergunta Deco, tendo o silêncio da sociedade como resposta.

A psicóloga Bárbara Meneses explica que a violência, ou a sensação de que ela está por perto, ali mesmo, na família, acaba levando o jovem a se esconder, a se isolar. “Nesse contexto, é comum que adolescentes manifestem a vontade de tentar suicídio. Eles pensam: ‘se eu me matar vou resolver o problema da minha família, já que eu sou o problema’. E não tem como pensar diferente numa condição dessas.”

Bárbara alerta que nem é necessária a presença de violência física para que a família demonstre a intolerância com um filho ou filha homossexual. “Infelizmente os pais ainda falam muito aquela frase ‘Prefiro um filho morto a ter um filho viado... prefiro ter uma filha drogada, prostituta, um filho ladrão, traficante, qualquer coisa, menos homossexual.”

DEPÔ - Duds, garota de 16 anos, comenta que passou pela cabeça a tentativa de suicídio devido à reação da família ao saber sobre sua identidade sexual. “Meus pais começaram a dizer umas coisas pra mim. Uma prima minha que também é lésbica falou horrores do que ela sofreu. Eu não agüentei e quase me matei. Fiquei super mal por três semanas mais ou menos”, relata.

CONVERSE, GRITE, DIALOGUE, MAS NÃO FIQUE QUIETO! Bárbara dá outra informação assustadora. “Pesquisas indicam que o jovem homossexual tem três vezes mais chances de cometer suicídio do que o menino hetero” diz a psicóloga, que faz um apelo: “Meu trabalho é de fortalecer as pessoas, para que ela não se culpe e ache que está pecando. Ela não é culpada de nada, ninguém é. Com essas informações as pessoas conseguirão evoluções dentro de casa. O importante é não se calar”.

Para corroborar o que diz a psicóloga, o relatório da Secretaria da Força-Tarefa do Governo dos Estados Unidos sobre o suicídio juvenil, elaborado por Paul Gibson em 1989, revelou que os jovens gays são de duas a três vezes mais propensos a tentar o suicídio, em relação aos jovens heterossexuais, compreendendo o total de 30% anual de suicídios juvenis. Em 2002 uma pesquisa coordenada por Anthony D’Augelli chegou ao mesmo número.

Em uma amostra de 4.159 estudantes do Estado de Massachusetts, EUA, analisada pelo pesquisador Robert Garofalo em 1998, verificou que 2,5%, ou seja, 104 estudantes, eram LGBT. Desses 104 adolescentes, 35,3% deles haviam tentado suicídio, contra 9,9% de tentativos dos estudantes heteros.

NÚMEROS VERDE-AMARELOS COLORIDOS. Em 2009, os pesquisadores Fernando Teixeira Filho e Carina Marretto, do Departamento de Psicologia Clínica da Unesp de Assis, observaram 2282 estudantes do Ensino Médio do Oeste Paulista, do qual 107 se auto-declararam não-heterossexuais. De acordo com Teixeira Filho, “encontrou-se que os não-heteros têm ‘aproximadamente’ 2 vezes mais chances de pensarem em suicídio e 3 vezes mais chances de tentarem se matar comparativamente aos heteros”.

O assunto é de deixar a gente meio sem reação mesmo. Mas, nem por isso, desistir de procurar algo que diminua esse número. “Agora imaginem os 1056 jovens que morrerão no próximo ano. Se tivessem a chance de pensar um pouco mais de tempo, de serem ajudados, de ver que de repente um diálogo bem aberto sobre tudo o que estão sentindo pode solucionar o problema... talvez não perderíamos tantas vidas”, lamenta Deco.

ASSASSINATOS SOCIAIS – O Grupo E-jovem pretende monitorar a taxa de suicídios entre os jovens brasileiros, junto a centros especializados como o Departamento de Medicina Preventiva e Social, da UNICAMP. “Cada vez que um menino prefere se matar a ter de ir a escola e ser humilhado de novo ou chegar em casa à noite e apanhar do pai homofóbico, foi a sociedade que falhou. O recado é claro: o garoto morreu porque não foi aceito no mundo em que vivia. Porque amava diferente de seus colegas e de seus pais. Que gente monstruosa é essa, que mata um filho a cada 8 horas??”, declara Deco.



Um comentário:

  1. Eu sou homosexual e reaçmente o pensamento de suicidio e bem presente. Provavelmente tdos os dias eu penso que seria uma saida mais facil, e olha que eu nem me assumi.

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