quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Você sabia que existe um santo protetor dos gays?!

Existe! E não, não é São Longuinho! O santo protetor dos gays – e dos militares – é São Sebastião.

St. Sebastian - Pierre et Gilles - 1987

Bem que poderiam inventar o santo dos blogayros, porque encontrei várias versões para a história de São Sebastião e uma bem diferente da outra. Desde narrativas sem graça em que ele é um livro de auto-ajuda ambulante que morre no final, até umas com um cara meio kamikaze, com lances sado-masô, bondage e suruba.
Portanto, vou contar a história de Sebastian baseado em alguns boatos, que é o que tem pra hoje. Aliás, consideremos sempre que tudo isso é um mito, nada há documentado. E vou usar o nome Sebastian, porque além de ser mais fofinho, Tião era o nome de um bêbado da minha infância que usava camisa xadrez desabotoada e corria atrás de mim com suas havaianas remendadas e um único dente amarelo do tamanho do caroço de uma jaca.


Hl. Sebastian -  Sandro Botticelli - 1473

Conto de Santo
Sebastian nasceu em Narbonne, na França, em 256 d.C., e foi cidadão de um dos paraísos integrantes do circuito da moda: Milão. Só até aqui já ganhou vários pontos da comunidade gay. Detalhe: Seu nome deriva do grego “sebastós” que significa “diviiiiiiiiiiiiiino!!!”.
Ali por volta de 283 d.C. ele se alistou no exército romano com a intenção de afirmar o coração dos soldados cristãos. Mas, dizem as más línguas que ele era peguete do imperador Diocleciano, que governava no oriente, e muito querido pelo imperador Maximiliano, no ocidente. Os dois imperadores queriam Sebastian sempre por perto, porque ele era um jovem militar com muita saúde, forte, viril, sarado, bonitão, um cara presença.
Mas não sabiam que o rapaz era cristão, e na época ser cristão era uó, dava cadeia, esculacho e até morte. E Sebastian era cristão com orgulho, batizado, convertia ao cristianismo os soldados e prisioneiros, mas tudo de maneira secreta, enrustida. Não dá para afirmar que ele estivesse dentro do armário, mas pelo menos dentro do confessionário ele estava. O curioso é que ele tinha um grande desejo, o de se tornar mártir e renunciar à própria vida em nome de Cristo.
Sebastian era tão preferido que foi designado a ser o primeiro capitão da guarda pessoal do Imperador Diocleciano. Porém, o imperador começou a desconfiar que Sebastian jogasse no outro time, mesmo sendo um cara tão discreto e sem dar pinta nenhuma de cristão. Mas é que o moço pegava leve demais com os prisioneiros cristãos e isso era contra seu dever de oficial da lei. A gota d’água foi quando alguém denunciou a orientação religiosa de Sebastian (Gostaria de aproveitar para dizer que não sou contra a opção religiosa dele).
Diocleciano, bicha-má que era, ficou enlouquecido, desceu do salto meeesmo e exigiu satisfações. Sebastian assumiu que era cristão sim, e daí? O imperador fez a cena toda histérica, falou um monte de palavrões, borrou a maquiagem, jogou na cara de Sebastian que tinha confiado nele, que esperava mais dele e estava se sentindo traído. Então, Sebastian foi julgado como traidor do império romano.
Em 286 d.C. (ou 287 d.C., ou 288 d.C., ou 303 d.C., cada um fala uma coisa) Diocleciano, aquela maricona escrota, ordenou a execução de Sebastian. Os soldados arrancaram as roupas do jovem militar, amarraram ele num tronco, e fizeram uma chuva de flechas sobre ele. Depois o corpo foi jogado num rio, ou deixado lá no tronco, de acordo com outras versões da história. Mas Sebastian não morreu, porque ele era o cara e rola uma conversa de que na época isso tinha sido um milagre. Ele foi encontrado e recebeu cuidados médicos de uma viúva chamada Irene, que depois virou Santa também.
Em 20 de janeiro de 286, 287, 288 ou 303 d.C., assim que se recuperou, Sebastian foi ter outra conversinha com Diocleciano. O Imperador ficou passado com a audácia do aspirante a santo. Mas aquela mal-amada que era Diocleciano, muito do recalcado, ordenou que Sebastian fosse espancado até a morte, e depois picado e jogado no esgoto público de Roma, só por garantia. Dizem que Luciana (que também virou Santa, óbvio) resgatou o corpo de Sebastian e o sepultou.
Em 680 d.C. as relíquias de São Sebastião foram transportadas para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, época em que Roma enfrentava uma grande epidemia. E essa epidemia desapareceu quando transportaram os retos mortais do santo, que passou a ser considerado o padroeiro contra a peste, as epidemias, a fome, a violência e a guerra.
E como todo santo, São Sebastião acumulou funções como patrono dos injustamente perseguidos, dos pestilentos, dos que estão à beira da morte, dos ferreiros, dos que fazem cerâmica, dos jardineiros, dos fabricantes de escovas, dos inválidos de guerra, dos fabricantes de armas, dos que constroem túmulos, dos que carregam caixões, dos militares e dos gays!
Em 1980 d.C., quando a AIDS começou a fazer muito estrago, foi a esse santo que muitos recorreram, pois desde a Idade Média São Sebastião é o santo das epidemias.


São Sebastião do Rio de Janeiro é o Melhor Destino Gay do Mundo

De santo a diva
São Sebastião virou hit na arte medieval, considerado o top model dos pintores na Renascença. Mesmo sem o consentimento do papa, os paparazzi medievais escolheram o santo como celebridade. Ele é representado como um jovem andrógino, muito bonito, com um corpaço, amarrado num tronco, seminu com um paninho amarrado na cintura e penetrado por flechas no peito.
Na atualidade, defende-se a idéia de que o uso dessa imagem é um protesto às religiões cristãs, que recusam a homossexualidade. Há outros signos nas pinturas, como a simulação de um orgasmo – São Sebastião tinha o desejo de morrer de forma honrada e com orgulho de ser quem era, então o orgasmo representa um momento de prazer para o santo. Em seu discurso de agradecimento ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1929, o romancista Thomas Mann afirmou que, apesar de protestante, tinha um santo favorito: "o jovem no sacrifício que, atravessado por flechas, sorri em sua agonia".
A história do santo foi sendo cada vez mais ligada aos gays. Tanto Sebastian quanto os homossexuais são obrigados a viver como clandestinos, numa vida dupla. No século III Sebastian era obrigado a esconder que era cristão para continuar sendo militar. Atualmente, milhares de homens são obrigados a esconder a orientação sexual para continuarem sendo militares. E Sebastian sofreu muito ao revelar que era cristão, chegou a ser julgado, torturado, espancado, martirizado por isso. Igualzinho a muitos caras que sofrem atitudes cruéis quando revelam sua homossexualidade.
O santo, e alguns gays, têm a coragem de mostrar orgulho pelas suas identidades polêmicas, e pagar por isso com sofrimento, violência, abandono, dor e morte. Às vezes aparece uma Irene, uma Luciana, algum outro santo ou santa, para dar conforto. E alguns, mesmo injustamente perseguidos, continuam orgulhosos mesmo tendo que sofrer sendo quem realmente SÃO.



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Homem mata bebê pois ele não tinha jeito de macho

Pedro Jones, 20 anos, trabalhava como babá e provocou a morte de um menino de apenas 17 meses nos EUA. O motivo? A criança estaria agindo como uma menina. O morador de Long Island, gerou revolta na população local ao confessar que matou o pequeno Roy A., de quem estava cuidando, para tentar "fazer com que ele se comportasse como um menino, e não como uma garotinha".


De acordo com a polícia, o criminoso deu vários socos no bebê e o agarrou pelo pescoço. A vítima chegou a ser levada ao hospital, mas morreu depois de sofrer parada cardíaca.


Dezessete meses! Como é que um bebê que ainda nem tem controle do fazedor de xixi vai saber o que é agir como menina ou como menino? E que parâmetros esse assassino tem para forçar uma criança a agir como homem se nem ele mesmo age com humanidade?


Isso é uma prova de como a homofobia atinge a todos, independente da identidade sexual. Roy, quando crescesse, poderia ser um hetero homofóbico também, mas nem isso ele poderá ser porque foi vítima da pior manifestação possível de homofobia.

Já passou da hora de o mundo perceber que a homofobia não agride apenas homossexuais. Ninguém quer ser beneficiado e levar vantagens com leis que criminalizam o ódio. Mas algo precisa ser feito porque quando alguém diz “viadinho” em tom de xingamento está, no mínimo, incentivando o suicídio de três adolescentes homossexuais brasileiros por dia e contribuindo para o assassinato de um homossexual a cada dois dias no Brasil. E de quebra está matando crianças de 17 meses.

E o pior é saber que algumas religiões (compostas por católicos e evangélicos principalmente) não dão a mínima pra isso. Elas preferem fingir que lavam as mãos. Dentre os mandamentos, elas mal conseguem sustentar o primeiro, que é amar a Deus sobre todas as coisas. E elas pregam o amor ao semelhante, mas o amor ao próximo (que nem sempre é um semelhante) que se exploda!!! Ou que receba vários socos e seja agarrados pelo pescoço até sofrer uma parada cardíaca.

Fico muito feliz em saber que heteros estão lendo meu blog e tenho uma pergunta: você já pensou em quantas crianças apanharam, sofreram e foram obrigadas a desistir da própria sexualidade e felicidade? E tenho um recado: heteros também são vítimas de crimes homofóbicos. Como pode ter acontecido com esse bebê, que nem teve tempo de virar hetero ou lobisomem.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Garota é proibida de levar namorada ao baile de formatura

Constance McMillen, de 18 anos, é diferente das outras meninas. Ela não é diferente porque a Lady Gaga a chamou de “meu monstrinho predileto”. Também não é diferente por ser lésbica, pois muitas das outras meninas também são. Mas ela é diferente porque foi proibida de levar a namorada ao baile de formatura. Isso aconteceu em um distrito escolar no Estado Americano do Mississipi. A escola Agricultural de Itawamba preferiu cancelar o baile a deixar duas gurias curtirem a noite. E depois aceitou um acordo de pagar 35 mil dólares à adolescente para encerarem a questão judicial!



Constance é exemplo. Nada de ficar em casa enquanto a festa rolava. A escola propôs que a garota levasse a namorada, mas elas não poderiam demonstrar nenhum tipo de carícias e as duas deveriam usar vestido. Nada de terno, como Constance queria. A menina não pediu esmola. Ela lutou. Em 23 de março deste ano o juiz distrital Glen H. Davidson decidiu que a escola violou os direitos de Constance, previstos pela Primeira Emenda da Constituição Americana.

"Nossos registros mostram que Constance assumiu publicamente sua homossexualidade desde a 8ª série, e que ela pretendia passar uma mensagem ao vestir um terno e expressar sua identidade ao comparecer ao baile com uma parceira do mesmo sexo", diz o texto do veredicto do juiz Glen Davidson. Aliás, agiu com a sabedoria de um Salomão, esse “filho de Davi”...



O que aconteceria se fosse aqui no Brasil? Nunca soube de nada parecido e fiquei estratosfericamente ansioso para ver um caso desses numa versão tropical. Meninos, por favor, me convidem para ser o par na formatura de algum de vocês!!! Só vou ficar devendo na valsa. Aliás... valsa? vamo combinar né...

Outra coisa que merece um “vamo combinar né...” é essa construção de casal feita pela sociedade. Ok, o Brasil não faz aqueles bailes de formatura com os alunos dançando perfeitamente coreografias inacreditáveis acompanhas de love song. A gente se contenta com uma valsinha e um trecho da Canção da América. Aqui também não tem limusine, “te pego às 8h00”, rei e rainha do baile, e aquela parafernália toda. Mas uma coisa tem de igual: o casal. Homem e mulher, e se fugir disso pode rolar enforcamento, apedrejamento, injeção letal e um mês sem internet.

Incrível é estar subentendido que ninguém pode quebrar essa convenção de casal. Mas dançar valsa em cima dos Direitos Humanos e depois atropelar com a limusine tá liberado! É bem assim: uma menina não pode fazer par com uma menina, mas ela pode ser proibida de participar de um evento importantíssimo na vida dela só porque uma instituição que deveria educar para a cidadania resolveu que menina com menina não forma um casal. Eu preferia não ser pego às 8h00 ou não ser coroado rei do baile.

E nem adianta vir com papinho de que “Mas ela não foi proibida. Ela poderia ir desde que não trocasse carícias com a outra menina”. Não sei se isso é burrice ou sadismo por parte de quem pensa assim. É um mistério que os heteros se incomodem com carícias entre homos, mas não dá pra entender porque o contrário não acontece. Essa deve ser uma frescura de heteros e pessoas frescurentas precisam de tratamento especializado urgente!

Muito suspeita essa fixação que a sociedade tem com casais. Parece que eles precisam afirmar isso dia após dia, translação após translação, baile após baile. “Meninos pra lá e meninas pra cá, senão a mão cai!” Nem precisa esperar até o baile de formatura, porque a polêmica já pode rolar na próxima festa junina. Na escola nunca tem o mesmo tanto de meninos e meninas... quando sobram mais meninas, não tem problema nenhum uma delas se vestir de cowboyzinho, mas vai colocar um chapéu de trancinha na cabeça de um menino!! Vai, duvido...

Sabe por que isso acontece? Porque uma menina pode se vestir de menino, afinal ser homem é tudo de bom. Mas um menino não pode se vestir de mulher nem de brincadeira, porque a sociedade machista acha que mulher é o erro e homem não pode se sujeitar a isso.

Quando a escola vai começar a ensinar o que é cidadania e parar de fortalecer convenções usadas para fundamentar preconceitos? Quando é que os heteros homofóbicos vão entender que o comportamento sexual deles também assusta? Quando é que vão deixar uma menina viver a natureza e a felicidade dela e parar de forçá-la a ser quem ela não é? Não sei...mas lembrei que um jeito de tornar-se hetero é menino levar menina ao baile de formatura.